quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

QUARESMA 2012 Quarta-feira da Quaresma - Semana 1 (29/02/12)

Relaxamento e calma é um subproduto de um bom trabalho.
Obviamente, se você se esforçar para relaxar o esforço para fazê-lo só vai criar mais tensão. Dê à meditação tudo que você tem, mas não tente demasiado forte. A meditação é um bom trabalho e leva a um tipo de descanso que não é passivo e entorpecido, mas claro, alerta e dinâmico.
 Isso é chamado paz.
O trabalho é a troca de energia entre diferentes formas. Quando começamos qualquer meditação, somos absorvidos nas formas de círculos de pensamentos diários e sentimentos, em todas as suas manifestações passadas e futuras. Elas representam o trabalho de nossas vidas diárias - necessário e útil.
No entanto, no momento em que começamos o trabalho de meditação - para estar no presente - essas formas se tornam distrações que devem ser deixadas para trás, todas elas. Instintivamente a mente tenta se comprometer - a dizer o mantra e, ao mesmo tempo, manter-se planejando ou sondando os pensamentos dolorosos ou entregando-se aos agradáveis.
Então, especialmente se você está estressado e sente que não tem tempo suficiente, tudo parece um desperdício de tempo, trabalho não-produtivo. Abraçar este desperdício aparente, porém, o transforma no mais poderoso estado da pobreza de espírito que é o caminho mais rápido para casa.
É como fazer o check-in para um vôo lotado, em um assento do meio na fileira de trás da classe econômica, próximo ao banheiro, e ser promovido para a classe executiva. Você pode não acreditar na sua sorte. Isso soa um pouco egoísta; o que torna altruísta é que você também percebe que todo mundo pode aproveitar a mesma "promoção de vida". E tenta avisá-los disso.
  As distrações vêm em embalagens diferentes - pensamentos triviais e superficiais de sua vida, questões pessoais mais profundas e (os vírus realmente perigosos) ambições espirituais e auto-avaliação. Toda a vez começamos de onde estamos. A maioria de nós começa com uma infinidade de imagens.
Tomar a direção oposta a elas, retornar fielmente ao mantra, no coloca em um reinício. Com o tempo, vemos que a fonte de toda a distração é a auto-consciência, a tendência de formar uma imagem de nós mesmos.
 Deixar isso para trás é o mais duro trabalho do deserto.
Mas isso leva para o oásis de auto-conhecimento e, eventualmente, para a terra prometida em si.
Laurence Freeman OSB

terça-feira da Quaresma




 
QUARESMA 2012
Terça-feira da Quaresma - Semana 1 (28/02/12)
"Sim, se vós perdoardes aos outros as faltas que eles cometeram, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes". (Mt 6, 14-15)
Esta é uma simples equação cármica que é bastante óbvia na nossa experiência no plano psicológico. A conexão entre as duas partes não é uma ameaça apenas descritiva. O Pai não se recusa a perdoar, apenas nós não podemos sentir o perdão do Pai que nos envolve a não ser que perdoemos. Então precisamos entender o que significa perdoar.
Se eu não posso relevar o jeito com que as pessoas tem me ferido, intencionalmente, inconscientemente ou até mesmo na minha fantasia, eu permanecerei congelado no tempo. Estarei reagindo no presente a partir de um roteiro imutável e repetindo memórias do passado. Vítimas de abuso ou perseguição sofrem isto traumaticamente. O que chamamos de cura é, na verdade, forçar a abertura do torniquete do passado para permitir que a medicina do perdão toque o local da ferida.
Além e dentro do nível psicológico, no entanto, está o domínio espiritual. Aqui, poderosas e misteriosas forças giram como galáxias no cosmos. Mas, ainda, que sejam vastas e cósmicas elas são amigáveis e nos conhecem melhor que nós a nós mesmos, embora não imponham este conhecimento sobre nós, pois assim nos massacrariam.
Cada uma dessas forças é uma emissão no plano do ser (o Pai). Elas são essencialmente, variações da energia primordial do amor. O objetivo da meditação é o de viver tão plenamente quanto possível na presença desta energia e aberta à ela.
Aprender a meditar é aprender a permitir a percepção desta energia se tornar uma realidade contínua, alimentando cada pensamento, palavras e ações. Para aprender qualquer coisa precisamos ter a humildade para ouvir e começar com tarefas simples do conhecimento que estamos adquirindo. Ficamos satisfeitos com este processo, assim como, ficamos profundamente satisfeitos, ao aprender a dizer o mantra.
A consequência desta aprendizagem é a transformação. Energizados pelo amor descobrimos que podemos perdoar porque o perdão é apenas um outro nome para o amor quando encontra a resistência da dor e rompe e restaura a integridade do ser.
Laurence Freeman OSB


Jorge de Nicomedia - (séc. IX)



Beijo a tua paixão,
com a qual fui libertado das minhas más paixões.

Beijo a tua Cruz,
com a qual condenaste o meu pecado
e me libertaste da condenação à morte.

Beijo aqueles cravos,
com que removeste o castigo da maldição.

Beijo as feridas dos teus membros,
com que foram curadas as feridas da minha rebelião.

Beijo a cana com que assinaste o atestado da minha libertação
e com que feriste a cabeça arrogante do dragão.
Beijo a esponja encostada aos teus lábios incontaminados,
com que a amargura da transgressão
me foi transformada em doçura.

Tivesse podido eu degustar aquele fel,
que dulcíssimo alimento não teria sido!

Tivesse podido eu tomar o vinagre,
que bebida agradável!

Aquela coroa de espinhos
teria sido para mim um diadema régio.

Aquelas cusparadas
me teriam ornado como esplêndidas pérolas.

Aquelas zombarias
me teriam ornado como sinal de profundo obséquio.

Aquelas bofetadas
me teriam glorificado como o prestígio mais alto.

Eu te beijo, Senhor,
e a tua paixão é o meu orgulho.

Beijo a lança que dilacerou o documento da minha dívida
e abriu a fonte da imortalidade.

Beijo o teu lado do qual jorraram os rios da vida
e brotou para mim o rio perene da imortalidade.

Beijo a tua mortalha com que me adornaste
tirando-me minhas vestes vergonhosas.

Beijo o preciosíssimo sudário de que te revestiste
para envolver-me na veste dos teus filhos adotivos.

Beijo o túmulo
no qual inauguraste o mistério da minha ressurreição
e me precedeste pela estrada que sai do Hades.

Beijo aquela pedra
com a qual me tiraste o peso do medo da morte.